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31 de março de 2007
Balanço: a anatomia de uma farsa
Postado por Capelli às 18:25
Este é o último post que faço a respeito da entrevista de Osamu Goto, apenas para servir como um ponto final no assunto. Mais comentários, apenas se fatos novos surgirem, como alguma prova incontestável da existência ou não da entrevista.

A imagem que foi divulgada trata-se obviamente de uma fraude. Ainda que não existam provas defintivas, muito pedidas por alguns (queriam o que? uma foto de alguém com o word aberto digitando o texto?), o grande volume de indícios é mais do que suficiente para caracterizar a fraude.

Agora, encerrando o assunto, um balanço minucioso dos principais aspectos que caracterizam toda a mentira. Existem ainda diversos aspectos técnicos que poderiam ser abordados, como a URL de onde o print foi alegadamente realizado, os softwares utilizados para a exibição da notícia, mas nem sequer entrarei nesta seara. Primeiro, por ser técnica demais e, em segundo, por não julgar tão importante. A própria apresentação da reportagem em si já se revela como fraude, sem haver necessidade de fazer questionamentos sobre o autor e sobre o modo como foi obtida.


1. As imagens utilizadas

A foto de Osamu Goto que ilustra a reportagem, - aliás, não é nada comum para uma revista ilustrar uma entrevista apenas com uma 3x4 produzida para divulgação – está publicada na Internet, link aqui. Ela possui, inclusive, as mesmas proporções de corte.

A imagem da Spirit, como já citado, está no site RealHondaF1. Trata-se da mesma foto publicada no site, com o seguinte agravante: ela aparece na “Autosprint” com o selo do site impresso nela. Curioso, não?

Mais curioso ainda se consultarmos na Internic e chegarmos à conclusão de que o domínio só foi criado em 2005. O próprio logo do site é inspirado no logo da equipe Honda. Logo que só foi inventado em fins de 2005. Como a Autosprint teria esta imagem em 2000? Impossível. Assim como seria impossível que eles publicassem uma foto exatamente com as dimensões de corte de uma publicada na Internet, com o selo do site. Nenhum editor permitiria isto.

Alguns leitores me informaram que o site pode existir desde 1999, já que lá existe um wallpaper do carro deste ano. Ora pelotas, é só ter um pouco de boa vontade para ver que este wallpaper foi publicado em 7 de janeiro de 2006!


2. Os erros conceituais

Jornalisticamente falando, uma entrevista jamais começa sem uma introdução. O jornalista começa falando sobre o entrevistado, explicando quem é, o que faz, o que fez. Qual o assunto da entrevista, quando e onde ela foi feita e a introdução de seus pontos mais importantes.

O print apresentado começa com o texto direto e reto, sem sequer citar apresentar na primeira pergunta o nome do entrevistado. Já começa com “AS/OG”.

Um texto assim jamais seria publicado numa revista como a Autosprint.

Também é notável a falta de aspas nos "olhos", que é como chamamos os trechos em destaque que aparecem no meio da entrevista em fonte maior, para chamar a atenção. Nunca se coloca uma declaração nessa circunstância sem ser entre aspas, em qualquer linguagem ocidental.

3. Os erros históricos

O que diz a entrevista: Na segunda coluna, segunda resposta, Goto diz que a Spirit fez um trabalho de pré-temporada em 1983 com Emerson Fittipaldi, que deu imensas contribuições ao desenvolvimento dos motores Honda.

O que aconteceu: Emerson Fittipaldi testou mesmo um Spirit. Mas em 1984, com motor Hart. A Spirit não fez pré-temporada com a Honda no inverno europeu de 1983, sendo que nesta época o time mal existia. A Spirit só estreou na F1 no meio da temporada de 1983, no GP da Inglaterra. Como Osamu Goto poderia lembrar-se das grandes contribuições de Emerson à Honda, se o brasileiro nunca sentou num carro de F1 equipado com tais motores?


4. Os erros de idioma e ortografia

Uma das principais publicações mundiais, como a Autosprint, jamais vai às bancas com erros ortográficos. Vez e outra, até podem acontecer, mas nunca erros tão básicos e neste volume, e em apenas duas páginas.

Roseberg, Rosemberg, Rosebud? - Na terceira coluna, penúltima pergunta, o nome de Keke Rosberg aparece escrito como “Roseberg”.

Commmmmminciare - O verbo “cominciare” (começar) aparece sempre escrito como “comminciare”, com dois “emes”.

Muratore? - Na quarta coluna, última pergunta, o repórter fala que a Williams conquistou o “titolo mondiale di muratori”. “Muratore”, em italiano, significa “construtor”. Porém, na acepção de “pedreiro”, “empreiteiro”. Ninguém na Itália chama um construtor de carros de “muratore”, mas sim de “construtore”. O termo correto seria “titolo di construtori”. Este tipo de confusão normalmente ocorre quando não se conhece um idioma. Um repórter da Autosprint jamais confundiria uma equipe com uma empreiteira.

Corridore? - Durante toda a entrevista, tanto o repórter quanto Goto tratam pilotos pelo termo “corridore”. Embora não esteja propriamente errado, este termo não é utilizado. Quando se quer falar “piloto” em italiano, diz-se “pilota”. A palavra “corridore” poderia aparecer eventualmente, para evitar repetição de termos. Porém, durante todo o texto, somente ela é utilizada. É como se, numa matéria em português, um piloto fosse o tempo todo chamado de “corredor”, sem que a palavra “piloto” aparecesse. Estranho, não?

Quello anno? - Na quarta coluna, quando fala sobre o contrato de Keke Rosberg, Goto diz que o contrato do finlandês terminava “in quello anno”. Em italiano, não se costuma escrever desta forma, mas sim “quell’anno”. Um texto de revista não cometeria um erro assim.

Tradutor automático? – Na quinta coluna, terceira resposta, aparece a seguinte frase que, por sinal, começa com letra minúscula, em mais um erro de ortografia.

“abbiamo meso questo come uma condizione per dare proseguimento com il compagno do gioco/partner.”

Quem tentou traduzir para o italiano quis utilizar o passado composto. Mas o particípio do verbo “mettere” (colocar – palavra utilizada na versão em português da entrevista), é “messo”, não “meso”. O correto, então, seria “Abbiamo messo questo...” Mas o desavisado, ainda por cima, não conseguiu traduzir o termo “parceria”. E acabou deixando ali as duas opções que normalmente são dadas por tradutores automáticos: “compagno do gioco/partner”. Pior do que isso: não existe “compagno do gioco”, é um erro de gênero. O correto é “compagno di gioco”, para designar “colega, companheiro de equipe”.

Repetição de termos – O vocabulário da matéria, como um todo, é muito pobre. Termos se repetem o tempo todo, como se faltasse ao redator vocabulário para redigir. Isto seria inadmissível num jornalista. Termos, como “corridore”, são repetidos à exaustão, sem qualquer sinônimo para tornar o texto mais leve e agradável. Um texto feito por alguém que não domina a língua completamente é que normalmente apresenta tais vícios.


Dados tantos pontos questionáveis, torna-se nítida a sensação de que o print foi fraudado, alguém buscou fotos na Internet para ilustrar e pegou a entrevista "original" em português e tentou traduzir para o italiano. Pena que não foi bem sucedido na tarefa, dados os tantos e volumosos erros apontados. Poderia ter encontrado mais, fosse meu italiano mais fluente. Infelizmente ele serve apenas para ouvir e ler, mas estou estudando ainda.

Se alguém clamar para si a autoria da imagem e quiser defender todos os pontos apontados, declarando e assinando a veracidade, o canal está aberto. O problema é arranjar uma justificativa plausível para tudo.

E, fechando, deixo muito claro que a intenção aqui não é julgar nem acusar ninguém. A intenção apenas é provar que a imagem é falsa. Depois, é cada um com sua consciência.

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