Depois de muita luta, Philippe Streiff tinha finalmente conseguido uma vaga na Fórmula 1. Estreara na categoria em 1984, guiando um terceiro carro da Renault no GP de Portugal, mas não conseguira firmar-se no topo do automobilismo mundial. Disputou a temporada de Fórmula 3000 em 1985, até que a equipe Ligier, cansada das trapalhadas do titular Andrea de Cesaris, deu um belo chute no traseiro do italiano.
Como a equipe era patrocinada pelos cigarros Gitanes, que também apoiavam Streiff na F3000, a oportunidade foi imediata. O francês ganhava um assento na F1 por cinco corridas, a partir do GP da Itália. Mas apesar de um quinto lugar no grid para o GP da Europa, os resultados de Streiff não empolgavam. Só que o piloto era persistente, chegando até a disputar uma corrida mesmo que sua equipe a boicotasse. A Ligier recusou-se a correr na África do Sul, em protesto contra a política do apartheid. Mesmo assim, ele assinou com a Tyrrell por apenas uma prova e correu, todo pimpão. Pena que bateu.
Até que chega o GP da Austrália, derradeira etapa daquela temporada. A Ligier não fazia um bom campeonato, com poucos resultados expressivos - dois pódios de Jacques Laffite na Inglaterra e na Alemanha. E a corrida em Adelaide começa sem muitas perspectivas para os franceses. Streiff larga em 18º e Laffite, em 20º. Mas a primeira exibição oficial da Fórmula 1 na Austrália foi bastante difícil para carros e pilotos. Muito calor, pista de rua, várias quebras e acidentes. E dentro deste cenário, a Ligier começa a se destacar. Lá pelo último quarto de prova, uma improvável dobradinha surge no horizonte. Laffite está em segundo. Streiff, o novato, é o terceiro. O resultado é fantástico e não pode ser colocado em risco. Ninguém deve arriscar, ninguém. Ninguém?
Pois é, ninguém deveria. Mas Streiff arriscou. Mesmo com 30 anos na cara, novato mas nem de perto um garoto, embestou que queria o segundo lugar para ele. Laffite, macaco velho, não deu muita bola. Sentia a pressão do companheiro, mas imaginava que ninguém seria tolo de arriscar um resultado tão bom para a equipe. As voltas foram passando, passando, e Streiff não dava a menor impressão de que desistiria. Colava na caixa de câmbio do companheiro, tirava de um lado, tirava de outro, tentando a ultrapassagem. E Laffite nem-te-ligo.
Até que chega a penúltima volta. Ao final da grande reta do traçado, Streiff tira para o lado interno da pista, retarda a freada e tenta uma arriscada ultrapassagem. Laffite nem retarda, freia no ponto normal e faz o tangenciamento correto da curva. Resultado? Acidente. O pneu dianteiro esquerdo de Streiff toca no traseiro direito de Laffite, provocando uma quebra na suspensão do terceiro colocado. A dobradinha estava ameaçada, os dois carros poderiam não mais chegar ao final da corrida.
Porém, com mais sorte do que juízo, chegaram. Laffite não teve nenhuma seqüela, enquanto Streiff deu duas voltas e meia no traçado com um pneu totalmente de lado, suspensão quebrada, sobre apenas três rodas. Mas chegou. Foi para o pódio, mas levou uma bronca enorme de Guy Ligier. Nunca mais sentou num carro da equipe. E nunca mais subiu ao pódio outra vez.Etiquetas: GP da Austrália, História, Jacques Laffite, Ligier, Philippe Streiff |