 - Segunda vitória consecutiva de Fernando Alonso, que mais uma vez demonstrou imensa competência ao levar um carro não tão confiável ao primeiro lugar, à frente de adversários muito mais bem equipados, como Robert Kubica e Kimi Raikkonen. A conquista do espanhol, contudo, fica diminuta perto da importância das patuscadas protagonizadas pelos líderes do campeonato, que também tiveram influência no resultado final da prova.
- O campeonato de 2008 ficará marcado como um dos poucos em que os candidatos ao título abusaram dos erros. Lewis Hamilton já tinha feito das suas, Felipe Massa também, e no Japão ambos confirmaram a impressão de que são por demais instáveis, apesar de talentosos.
- A maluquice de Hamilton na primeira curva, brigando pela liderança como se precisasse urgentemente do resultado, comprometeu toda a sua corrida. Não havia a mínima necessidade de uma disputa de posição com Kimi Raikkonen do modo como ocorreu, fritando pneus, perdendo o ponto de freada, escapando da pista e levando consigo o adversário.
- O inglês precisa esfriar a cabeça e parar de assumir riscos desnecessários. Liderando o campeonato, continua cometendo erros capitais, como no ano passado. Largando em primeiro, com Felipe Massa em quinto, perdeu uma grande chance de encaminhar o título mundial. A lição, ao que parece, não foi aprendida.
- Ainda que tivesse perdido uma ou duas posições na largada, teria toda uma corrida pela frente. A velha máxima continua valendo: "Não se ganha uma corrida na largada, mas é muito fácil perdê-la."
- Felipe Massa, porém, colaborou com Hamilton no momento em que também exagerou quando não aceitou ser ultrapassado pelo inglês, também nas primeiras voltas. É lógico que Felipe, em desvantagem na tabela, precisa assumir mais riscos, mas a manobra feita por sobre o adversário, empurrando-o com as quatro rodas fora da pista, foi por demais exagerada. O brasileiro teve muita, mas muita sorte em não danificar o carro e poder permanecer na corrida.
- Depois do erro e da justa punição por provocar o acidente, fez uma prova brilhante. Com a faca entres os dentes, foi o piloto mais rápido da pista - muito mais rápido, aliás - e foi subindo posições até atingir uma merecida oitava posição, garantindo um ponto.
- É verdade que, no meio do caminho, o brasileiro envolveu-se em outro toque, agora com Sebastien Bourdais. Neste caso, porém, não acho que tenha cometido um erro grave. Não tinha muito a perder, precisava ganhar a posição do francês, sob pena de comprometer sua recuperação. Terminou por comprometer do mesmo jeito, mas não me pareceu um acidente acintoso - como o com Hamilton - e, mesmo com a direção de prova informando que comissários avaliarão o acidente depois da prova, não creio em punição. Pareceu uma disputa normal de corrida.
- Aliás, disputa normal de corrida me pareceu também a largada de Lewis Hamilton. Ele e Kimi Raikkonen se estranharam, acabaram fora da pista, mas não me pareceu algo digno de punição. Os comissários foram rigorosos demais, mais uma vez com a McLaren.
- O ponto conquistado por Felipe Massa foi de suma importância. Agora seis pontos atrás de Hamilton - que terminou a prova apenas em 12º -, ainda precisa tirar uma diferença considerável em apenas 20 pontos a disputar. A manutenção dos sete pontos, entretanto, faria com que a McLaren dependesse apenas de si mesma para ser campeã por antecipação na China.
- Vamos à matemática: em caso de vitória de Hamilton em Xangai, com Kovalainen em segundo, Felipe Massa ficaria 11 pontos atrás mesmo que chegasse em terceiro. Com dez a disputar, seria fim de campeonato. Agora, mesmo que este cenário aconteça, Felipe ficaria 10 pontos atrás. A vantagem ainda seria grande o suficiente, mas não garantiria metematicamente o título na China. Se Felipe vencer em Interlagos e Hamilton não pontuar, os dois empatam em pontos e o brasileiro é campeão por ter uma vitória a mais.
- A recuperação impressionante de Felipe, forçando tudo em busca de um ponto, pode trazer problemas a ele no GP da China, na próxima semana. Era a primeira corrida do motor do brasileiro, que tinha usado um coringa na Itália. Assim, ele fica obrigado a repetir motor em Xangai para não perder posições no grid de largada. E, sem ter poupado o propulsor por um minuto sequer, rodando muito provavelmente no giro máximo o tempo todo, a confiabilidade - que na Ferrari já não é lá essas coisas - fica muito comprometida.
- Hamilton terminou o dia como o grande derrotado. Saía da pole, tinha o adversário quatro posições atrás e poderia ter aberto uma vantagem bem mais confortável no campeonato. Fez lambanças, foi abalroado por Felipe e viu o adversário marcar um ponto. Ainda tem uma boa vantagem, mas perdeu uma grande chance de incrementá-la.
- A corrida, cheia de alternativas, teve outros personagens além dos dois lambões candidatos ao título. Vamos a eles.
- Robert Kubica, segundo colocado, ainda tem chances matemáticas de ser campeão. A 12 pontos de Hamilton, precisa vencer as duas corridas finais e torcer para que o inglês marque, no máximo, sete pontos. E Felipe Massa não pode marcar mais que 13. Improvável.
- Kimi Raikkonen, terceiro, fez mais uma prova mediana. Foi protagonista por poucos metros, quando avançou bem na largada e tentou assumir a ponta, antes de ser atacado por Hamilton e sair da pista. Dali para frente, foi apagado.
- Nelsinho Piquet, que chegou num excelente quarto lugar. Contudo, comparado com a vitória da Fernando Alonso, o feito tem pouco significado. Não acho que seja suficiente para manter seu emprego para o ano que vem. Pelo menos, voltou a andar bem.
- Rubens Barrichello não fez grande coisa na corrida - com a Honda, também fica difícil -, mas mostrou disposição ao lutar com unhas e dentes com Nico Rosberg. Não aceitou fácil uma tentativa de ultrapassagem do alemão e fechou a porta corajosamente. Mas resultado que é bom, nada. 13º, ao menos à frente de Jenson Button.
- Mundial de pilotos: Hamilton 84, Massa 78, Kubica 72, Raikkonen 63. Matematicamente, o atual campeão do mundo está fora da briga pelo título. A F1, em 2008, terá um terceiro campeão diferente em três anos consecutivos. Fato que não acontece há mais de dez anos, quando houve quatro seguidos: Michael Schumacher (1995), Damon Hill (1996), Jacques Villeneuve (1997) e Mika Hakkinen (1998).
- Entre os construtores, a Ferrari reassumiu a ponta: 141, contra 135 da McLaren. A BMW tem 128.
- Como no ano passado, Lewis Hamilton pode ser campeão antecipado em Xangai. Para isso, precisa vencer e torcer para que Felipe Massa chegue, no máximo, em quarto lugar. Se for segundo, Felipe pode, no máximo, ser oitavo. Se for terceiro, Felipe não pode pontuar. E se for quarto, o campeonato continuará aberto. Para ser campeão, Massa precisará levar a disputa para o GP do Brasil.
- Campeonato excelente, recheado de boas corridas. O GP do Japão não foi exceção.
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