 Aconteceu hoje, em Paris, o julgamento do recurso da equipe McLaren contra a punição a Lewis Hamilton no GP da Bélgica. Na ocasião, piloto venceu a corrida mas perdeu 25 segundos de seu tempo final por ter cortado uma chicane na disputa pela liderança com Kimi Raikkonen. O resultado sai amanhã.
Lendo os relatos do julgamento, me chamou a atenção um trecho em específico, no qual Hamilton rebatia argumentos de Nigel Tozzi, advogado representante da Ferrari na audiência:
"I have been a racing driver since I was eight years old and I know pretty much every single manoeuvre in the book, and that's why I'm the best at my job." Traduzindo, o piloto da McLaren disse à côrte de apelações que é o melhor naquilo que faz. Trocando em miúdos: se julga o melhor piloto da atualidade.
O ato falho explica algumas coisas. Lewis tem um talento natural inquestionável. É rápido, realiza ultrapassagens empolgantes, vence corridas com autoridade. Mas em seu currículo, até aqui, seu maior feito é o de ter perdido no ano passado o título mais ganho da história. E perdeu porque resolveu brigar pela vitória na China, quando poderia apenas ter "marcado" Fernando Alonso para ser campeão por antecipação. Forçou tanto a barra que destruiu seus pneus e foi parar no único metro quadrado de brita do autódromo de Xangai. No Brasil, tentou ultrapassar o espanhol por fora na curva do lago, saiu da pista e depois foi vítima de um problema de câmbio. Perdeu uma incrível vantagem de 17 pontos em 20 possíveis e terminou o ano num amargo vice-campeonato.
Talvez, se não se julgasse superior como demonstrou hoje, poderia ter sido campeão com tranqüilidade. A autoconfiança é extremamente importante para um piloto de ponta e todo vencedor precisa julgar-se capaz de transpôr qualquer desafio. No entanto, existe uma linha tênue entre a autoconfiança e a presunção. E Hamilton parece estar esbarrando justamente na segunda característica. Quando se julga não apenas capaz de algo, mas sim superior a tudo, comete-se erros primários. Como cortar chicanes e ser punido duas vezes por isso numa temporada. Como bater estupidamente na saída dos boxes.
O estilo de Lewis Hamilton traduz a essência do automobilismo. Não desiste, é ousado, até perigoso algumas vezes - como um dia também foram Schumacher, Senna, Villeneuve ou Peterson -, nenhum demérito por isso. O grande problema do inglês é o fato de existir numa época de cultura de celebridades, de histeria coletiva sensacionalista, quando a imprensa de um país converte um piloto de sucesso em semideus. Incensado a gênio cedo demais, Hamilton parece ter acreditado no fanatismo cego de seus compatriotas. E isso o leva a arroubos como o de, deselegantemente, dizer ao mestre Jackie Stewart que não precisa de conselhos. Ou como o de hoje, de se declarar publicamente o melhor piloto do mundo.
Hamilton um dia pode virar o melhor do mundo e tem totais condições para tal. Mas, antes, precisa colocar a cabeça no lugar.Etiquetas: Análises, Lewis Hamilton  |