A sensação inicial de "primeiro de abril" que a notícia do escândalo sexual envolvendo Max Mosley causou vai, aos poucos se desfazendo. O News of the World pode não ter credibilidade nenhuma, mas os jornais britânicos sérios começaram a tratar do assunto em suas edições de segunda-feira.
Sintomática é a declaração oficial da FIA: "Este é um problema entre Mosley e o jornal envolvido. A FIA não comenta o assunto", disse o porta-voz da federação a Alan Henry, do Guardian.
Fosse uma mentira deslavada ou uma brincadeira inconseqüente, não haveria problema em negar a notícia veementemente. O fato da FIA não se pronunciar e Max Mosley estar recluso, elaborando uma estratégia de defesa junto a advogados, aponta para a seriedade das acusações.
Muita gente importante já trata do assunto como verdade. Martin Brundle, inimigo declarado do dirigente, fez questão de dizer que a conduta de Mosley não foi apropriada para alguém que possui um cargo de liderança global. Bernie Ecclestone, parceiro de Max, não duvidou do vídeo: "O conheço há muito tempo. Se alguém me contasse algo do tipo sem nenhuma evidência, eu teria dificuldades em acreditar".
A declaração mais forte veio de Sir Stirling Moss, quatro vezes vice-campeão mundial, que disse ao Times: "Eu não vejo como ele poderá continuar [no cargo]. Espero que ele continue, pois ele é muito bom no que faz. O que ele faz em portas fechadas é problema dele, mas quando algo assim vem à tona... é absolutamente chocante". Procurados, Ron Dennis, Jackie Stewart e Damon Hill preferiram não comentar o assunto.
O jornal que tratou do caso com mais reservas foi o Daily Mail, que apenas relatou a notícia, sem ouvir nenhuma parte.
Estou achando que o caso é muito sério. Como bem disse Sir Moss, o que ele faz entre quatro paredes não é da conta de ninguém. O problema é que as imagens vieram a público. Fosse só uma escapada com prostitutas e preferências sexuais socialmente inadequadas, nenhum grande problema. O que complica Max Mosley são as referências explícitas ao nazismo.
O Comitê Olímpico Internacional, por exemplo, pune por doping atletas flagrados por uso de maconha ou cocaína, embora nenhuma das duas substâncias vise a melhora de desempenho. A punição é moral, atletas de alto nível são exemplos de saúde e seria contraditório que tivessem sua imagem vitoriosa ligada ao uso de drogas ilícitas. O escândalo envolvendo Max Mosley segue a mesma linha. Qualquer organização esportiva faz questão de desassociar sua imagem de racismo, xenofobia e violência. E foi o presidente de uma delas que teve sua intimidade violada, revelando um gosto peculiar no trato com o assunto.
Assim como Moss, acredito que ele não terá mais condições de presidir a FIA. Mosley foi vítima de um assassinato moral. A menos que se consiga provar que as imagens não são verdadeiras, não terá mais a mínima condição de liderar uma entidade reguladora do esporte.Etiquetas: FIA, Max Mosley, Notícias |