O GP da Malásia era a segunda etapa do campeonato de 2003 da Fórmula 1. A categoria vivia um momento atribulado, com as equipes ainda tentando entender o novo sistema de classificação. Desde a corrida anterior, na Austrália, os pilotos precisavam participar do treino que define o grid de largada já com o combustível para a corrida. A novidade gerou maiores possibilidades em termos de estratégia e ainda não havia ficado claro para ninguém qual a melhor opção. Valia a pena sair leve, largar na pole, disparar na frente e parar cedo nos boxes? Ou era melhor ser mais conservador, largar atrás com mais combustível e fazer as paradas de box no melhor momento?
A Ferrari demorou para entender o novo regulamento e não começou bem aquela temporada, depois de um ano dominante em 2002. Na Austrália, Michael Schumacher e Rubens Barrichello saíram leves e formaram a primeira fila, mas tiveram uma corrida problemática. O brasileiro rodou logo no começo e abandonou, enquanto o alemão se viu em apuros com pneus intermediários numa pista que insistia em secar. A estratégia de três paradas não rendeu frutos e o então pentacampeão do mundo chegou num modesto quarto lugar. A vitória ficou com o pouco cotado David Coulthard, que havia saído em 11º e que ainda corria com uma McLaren do ano anterior adaptada ao novo regulamento.
A primeira grande surpresa do regulamento de classificação veio a ocorrer na Malásia. Fernando Alonso, apenas em sua segunda corrida pela Renault, marcou a pole position, tornando-se o piloto mais jovem da história a sair na posição de honra, um recorde que dura até hoje. Jarno Trulli, seu companheiro de equipe, compartilhava da mesma estratégia de largar leve e, assim, conseguiu o segundo lugar do grid, formando uma primeira fila azul e amarela. Schumacher sairia em terceiro, seguido por Coulthard, Barrichello, Nick Heidfeld e Kimi Raikkonen.
Na largada, Alonso mantém a ponta e Schumacher força para ganhar a segunda posição de Trulli. Força tanto que acaba jogando o italiano para fora da pista. Por causa do toque, o alemão caiu para o 14º posto. Não bastasse o começo ruim, outro castigo veio rápido para Schumacher. A direção de prova o julgou culpado pelo acidente na segunda curva e o obrigou a pagar um drive-through. O alemão passava a ser carta fora do baralho na briga pela vitória.
Beneficiados pelo acidente à frente, Coulthard assumia a segunda posição, Heidfeld a terceira e Raikkonen, a quarta. Logo na terceira volta, o motor Mercedes de Coulthard apagou e o escocês abandonou a prova. Mas nem todas as notícias eram ruins para a McLaren. Na mesma passagem, Kimi Raikkonen ultrapassou a Sauber de seu ex-companheiro Heidfeld e assumiu a segunda posição. Neste momento, o finlandês passava a ser o favorito para a vitória. Todos sabiam que Alonso tinha pouco combustível e não tardaria a parar nos boxes, fazendo de Raikkonen o virtual líder do Grande Prêmio.
Não deu outra. Com 13 voltas, a Renault chamava Alonso para reabastecer e Kimi assumia a liderança de uma corrida pela terceira vez na carreira. A briga pela ponta ficava restrita ao finlandês e a Rubens Barrichello, que havia caído para sexto com a confusão da largada e vinha galgando posições. Kimi, contudo, conseguiu controlar a diferença para a Ferrari, nunca a deixando baixar da casa dos 14 segundos, podendo fazer seus pit stops e voltar bem posicionado com relativa facilidade.
Controlando a diferença com uma pouco usual tranqüilidade para quem rumava para sua primeira vitória, Raikkonen fez uma corrida perfeita. Bem diferente do GP da França do ano anterior, quando teve a vitória em mãos e deixou escapar a cinco voltas do fim, quando perdeu o ponto de freada na curva Adelaide e entregou de bandeja o primeiro lugar para Michael Schumacher.
Completadas as 56 voltas, Kimi cruzava a linha de chegada em primeiro, com quase 40 segundos de vantagem sobre Rubens Barrichello, o segundo. A estratégia da Renault, embora claramente não fosse capaz de brigar pela vitória, deu certo e premiou Fernando Alonso com o terceiro lugar. A formação do pódio, aliás, continha alguns recordes. Alonso tornava-se o primeiro espanhol da história a chegar entre os três primeiros, assim como era o piloto mais jovem a obter o mesmo feito. E a idade dos participantes formava o pódio mais juvenil da história até então, com média de 25 anos, 3 meses e 17 dias. Era uma nova geração se impondo.
Na cerimônia de premiação, Kimi apresentava uma alegria contida, com econômicos sorrisos. Nem parecia sua primeira vitória, tal a postura de veterano que comemora a trigésima vitória. O mundo estava começando a conhecer o Homem de Gelo.Etiquetas: GP da Malásia, História, Kimi Raikkonen |