Para os dias que antecedem o GP da Austrália, etapa de abertura do Mundial 2008 da Fórmula 1, separei três "causos" da história deste Grande Prêmio, que serão contados no decorrer da semana. Fiquem de olho.
O ano é 1988. A McLaren domina a temporada com uma superioridade nunca antes vista na Fórmula 1. Ayrton Senna e Alain Prost dividem todas as vitórias do campeonato à exceção do GP da Itália, vencido por Gerhard Berger numa obra do acaso, na única vez naquela temporada em que as duas McLaren abandonaram.
Mas algo diferente aconteceu no GP da Austrália, última corrida da temporada e que marcava a despedida dos motores turbo. Berger, saído da quarta posição do grid, parte como um raio pra cima das McLaren. Logo na segunda volta, ultrapassa Senna e assume a segunda posição. Em mais doze voltas, desconta quase seis segundos e passa com facilidade por Prost, disparando na ponta. A diferença vai aumentando mais e mais, uma grande vitória parece próxima até que ele encontra pela frente o retardatário René Arnoux. Os dois batem, a corrida de ambos termina e o mundo excomunga o francês, que nunca teve por hábito facilitar a vida dos líderes, por ter destruído a melhor apresentação da Ferrari naquele ano.
Mas o "milagre" dos italianos naquele dia, na verdade, foi operado por um santo de barro. O fato é que a equipe sabia que não tinha muito a fazer naquela corrida em Adelaide. Não encontraram um bom acerto e o motor consumia muito combustível. Como na época os reabastecimentos eram proibidos, o time sabia que, para conseguir terminar aquela prova, precisaria andar num ritmo muito lento. A solução? Correr desenfreadamente, sem qualquer preocupação em chegar ao final, apenas para dar show. E Berger conseguiu.
O mais saboroso de toda a história foi a confissão feita pelo austríaco anos mais tarde, em seu livro "Na Reta de Chegada". Berger admitiu que bateu em Arnoux de propósito, era uma forma "digna" de encerrar aquele show. Nas palavras do piloto:
"Cheguei a dois carros retardatários; o que estava mais à frente era o Ligier azul de René Arnoux. Era perfeito, pois Arnoux era um dos pilotos mais inoportunos, do tipo que nunca olhava nos retrovisores e estava sempre no caminho de alguém. Assim, passei pelo primeiro carro e por Arnoux também, em uma só manobra um tanto ambiciosa em que o pneu traseiro do Ligier entrou em minha frente, uma pequena batida, acabou, finito."
Este é o espaço no qual Ivan Capelli fala sobre automobilismo e alguns pormenores do cotidiano, com seu ponto-de-vista bastante particular. Além disso, toda terça-feira, uma charge sobre automobilismo.
Jornalista, 30 anos, um chato que dá pitaco em quase tudo sobre automobilismo. Além de manter este blog, Capelli colabora com o site Grande Prêmio, escreve uma coluna mensal no GP Total e co-produz e co-apresenta o podcast Rádio GP.