- Que vitória de Lewis Hamilton! Vitória de campeão do mundo. Debaixo de um aguaceiro descomunal, não deu chances para ninguém, sendo rápido, seguro e preciso, sem cometer qualquer erro. A única vez em que escapou da pista foi por culpa de Robert Kubica e uma manobra pra lá de otimista, que lhe rendeu uma rigorosa punição.
- Mordi a língua dizendo que Fernando Alonso era favorito na chuva, graças à sua experiência. Pelo contrário, o espanhol foi quem agiu como novato, cometendo dois erros até ser vítima de uma aquaplanagem e ver seu terceiro título escorrer pelos dedos.
- Com 12 pontos de vantagem para Alonso, Hamilton só precisa marcar o companheiro de equipe na China para ser campeão por antecipação. Se chegar à frente do espanhol, leva o merecido caneco.
- Enquanto Alonso descia do carro, as câmeras da Fuji TV perderam uma grande chance de mostrar os boxes da McLaren. Não duvido que alguns mecânicos tenham feito esforço para conter um espontâneo sorriso.
- Eu já me perguntava se os finlandeses nasciam com quatro bolas ao ver Kimi Raikkonen e Heikki Kovalainen andando alucinadamente nas últimas voltas debaixo da chuva mais forte de toda a corrida quando as câmeras flagraram o pega entre Felipe Massa e Robert Kubica nas curvas finais. Foi duelo mais espetacular dos últimos vinte e tantos anos de Fórmula 1, lembrando – em menor escala, lógico – a histórica disputa entre René Arnoux e Gilles Villeneuve em Dijon-Prenois.
- Massa fez uma corrida fraca, cometeu erros, de fato é mais lento na chuva que seus adversários diretos. Mas redimiu-se nas últimas voltas. Se lhe falta velocidade no molhado, não lhe faltou coragem. O sexto lugar de hoje, do modo como foi obtido contra Kubica, deve fazê-lo cair nas graças dos tifosi.
- Mas o brasileiro – e a Ferrari, por conseqüência – deu mais uma demonstração de que não conhece a fundo o regulamento. Depois de furar o sinal vermelho em Montreal, hoje ultrapassou com Safety Car na pista. A Ferrari também vacilou ao colocar seus pilotos na pista com pneus intermediários. E pensar que um dia os italianos foram mestres em interpretar o regulamento em momentos críticos e não prejudicar todo o trabalho do final de semana, tomando a decisão certa em poucos minutos. Alguém lembra de Schumacher vencendo o GP da Inglaterra de 1998 nos boxes?
- Que corrida de Sebastian Vettel! Terceiro em boa parte da prova com uma Toro Rosso, chegou a liderar por algumas voltas e provavelmente subiria ao pódio. Foi afoito e bateu em Mark Webber durante o Safety Car, tirando os dois da disputa. Uma bobagem imensa, mas perfeitamente perdoável para alguém que fazia apenas sua sexta corrida de Fórmula 1. Terminou com saldo positivo.
- Kovalainen fez excelente corrida, auxiliado pela boa estratégia da Renault, de largar com os dois carros lotados de combustível. Não foram bem na classificação ontem, mas conseguiram o primeiro pódio da temporada. E pensar que estamos falando da equipe bicampeã do mundo.
- Raikkonen protagonizou sua melhor corrida pela Ferrari. Pela primeira vez em 2007 foi novamente aquele piloto espetacular que venceu em Suzuka há dois anos, ultrapassando Fisichella na última volta. Precisou recuperar-se da troca de pneus a mais que fez, veio de trás e escalou o pelotão com agressividade. A ultrapassagem sobre Coulthard foi antológica. Terminou recompensado com o pódio e com a possibilidade matemática, ainda que mínima, de ser campeão.
- E Barrichello não pontuou novamente, embora tenha vivido essa possibilidade. Não quis pagar para ver e parou para reabastecer no finalzinho. Pelo menos chegou à frente do companheiro Button, que assumiu o risco e ficou sem gasolina na última volta.
- Pena que precise chover para que tenhamos corridas sensacionais. O GP do Japão foi o grande momento da temporada de 2007. E desfez qualquer dúvida sobre o talento de Lewis Hamilton. O inglês abandonou hoje o complemento "fenômeno" para adotar o "gênio".
- O novato será o campeão de 2007. A garantia do título agora é mera formalidade matemática. Alonso só tem chances se um raio atingir o inglês. Descontar 12 pontos em 20 é missão impossível. Raikkonen? Só se dois raios atingirem as duas McLaren nas duas próximas corridas.
Este é o espaço no qual Ivan Capelli fala sobre automobilismo e alguns pormenores do cotidiano, com seu ponto-de-vista bastante particular. Além disso, toda terça-feira, uma charge sobre automobilismo.
Jornalista, 30 anos, um chato que dá pitaco em quase tudo sobre automobilismo. Além de manter este blog, Capelli colabora com o site Grande Prêmio, escreve uma coluna mensal no GP Total e co-produz e co-apresenta o podcast Rádio GP.